terça-feira, 12 de junho de 2012

Capítulo 2 - Parte 4

- O que aconteceu? – perguntou ela, sem abrir os olhos, ao dono dos braços que a envolviam protetoramente.
- Você desmaiou. – o rapaz respondeu, mas a voz não era a de Jake.
- Ian? – ela abriu os olhos e deparou-se com um azul tão profundo que a impediu de pensar por alguns instantes. Depois, o mesmo azul tirou-lhe todas as dúvidas.
- Lizbela. – disse ele, como que em uma confirmação, com certa frieza na voz.
A garota debateu-se, pedindo para ser colocada no chão, afirmando que já estava bem e que podia andar. Mesmo assim, Ian não a soltou.
O aperto dos braços dele era muito melhor que o dos de Jacques, muito mais confortável, muito mais caloroso... e ainda assim, ela sentia medo de estar lá, como se todo aquele conforto, todo aquele calor, de nada servisse. Como se aquilo não fizesse parte do mundo dela.
- Quer que eu te carregue, Lys? – perguntou Villaz, a voz dele ecoando logo atrás do definido peitoral de Ian que impedia a visão da garota, tirando-a de seus devaneios. Provavelmente ele havia percebido o desconforto da morena.
Ela tentou lançar o peso do seu corpo para que Jake a pegasse. Não estava nem aí para a educação, não estava nem aí para gentileza, e muito menos estava preocupada com o que Ian ia pensar da rejeição dela. Ela só queria sentir-se segura, e essa sensação poderia vir de qualquer um, menos de Ian.
O vampiro não a soltou, nem pretendia soltá-la, na verdade. Queria que ela confiasse nele, queria que seu brinquedinho se entregasse por completo, mas isso jamais aconteceria se ele a entregasse para Jacques toda a vez que ela pedisse.
E o que ele era, afinal? Sim, por que, fosse o que fosse, Villaz sabia que Ian era um vampiro, e tratou de deixar isso bem claro quando mencionou o ato de “colocar fogo” nas garotas. Fosse o que fosse, ele não pretendia esconder de Ian seu conhecimento sobre vampiros.
“Merda, mais essa agora.” Pensou ele, apertando ainda mais os braços ao redor de Elizabeth.
A garota desistiu de debater-se. Ele era extremamente forte. Ao invés disso, aconchegou-se da melhor maneira possível contra o peito do rapaz. Queria concentrar-se nas sensações deliciosas do abraço protetor dele, e não em quem era dono daqueles braços.
Mas parecia impossível, por que era só ela fechar os olhos para enxergar os olhos azuis até em seus pensamentos. Eram lindos, atraentes, enigmáticos... por um instante, ela quis preencher o espaço entre seus lábios e os de Ian.
Um arrepio percorreu seu corpo, originado do pensamento. A morena espremeu-se ainda mais contra o forte peitoral dele.
Ela só queria chegar logo à enfermaria para livrar-se daquele abraço desconfortável.

~*~*~

- Ah! Onde eles estão, pelo amor de Deus? – pedia Joe a si mesmo, impaciente.
Desde que Mary havia telefonado para ele dizendo que Lys havia sofrido uma queda e desmaiado, ele havia corrido de encontro aos demais.
Eram apenas dois minutos de corrida, e mesmo assim, assim que ele chegara ao ginásio de eventos, encontrara-o vazio.
- Merda, Mary Anne, atende essa porcaria de celular. Para que um celular que não para atender? – ele continuava falando sozinho.
“Alô?” perguntou a voz do outro lado da linha. Ele não tinha percebido que ela já havia atendido. “Escuta aqui, Joseph, se você planeja passar um trote, é mais idiota do que...”
- Oi, Mary. Desculpe. Como ela está? – ele foi despejando as palavras, uma após a outra, com uma urgência impressionante.
A garota explicou. Não havia passado do choque da queda, o desmaio tinha sido perfeitamente comum em um caso como o dela. Nada com o que devessem se preocupar.
O garoto agradeceu, aliviado, e desligou o celular. Logo depois, a luz apagou-se, e o ginásio mergulhou no escuro. Um frio dominou o local, um ar gelado e perigoso.
- Olá? Tem alguém aí? Olha, isso não tem graça.– disse o rapaz, a determinação em sua voz.
- Olá, Joseph. – Ouve uma pausa. O rapaz olhou para os lados, procurando o dono da voz por entre a escuridão. - Adeus, Joseph. – disse a mesma  voz masculina, antes de o moreno ser acertado com algo pesado na cabeça.
A escuridão o engolfou.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Capítulo 2 - Parte 3

- Bem vindo ao McKingley High, Ian.
- Medíocre, fedorento, imundo e sem graça. – completou Joe.
O colégio estava cheirando à omelete, revelando o que o refeitório trazia de almoço para as pessoas que estavam ajudando na preparação do ginásio.
Enquanto Mary tirava os materiais artísticos da sala da Srta. Murtgomery, Lys revirava seu armário à procura de fita, tesoura, cola, alfinetes ou qualquer coisa posta ali que, sem querer, servissem para algo.
- Então, Lizbela... – começou o vampiro, escorando-se no armário ao lado da garota. – Com quem você vai ao baile?
Lys olhou para o moreno de olhos azuis, em um misto de surpresa e descrença. Não pode impedir seus olhos de irem de encontro aos braços fortes do rapaz, apertados dentro do tecido da camisa preta.
- Eu não vou para o b...
- Você podia vir comigo! – ele a interrompeu. Vendo a cara de assustada da garota, ele completou. – Qual é, eu adoro bailes, e você é a única garota daqui que eu conheço, exceto, é claro, minha prima. E antes que sugira, não, eu não virei sem par, é ridículo e é coisa de nerd, e eu estou muito longe de ser nerd, como você bem pode ver. Além disso, Mary já vai ao baile com seu amiguinho, o... qual é o nome mesmo... Jacques Claude Villaz. – ele falou com desdém. – Ela não para de falar sobre isso. Eu até achei que ele fosse querer vir com você, mas...
O vampiro lançou um olhar esperto para a garota, um olhar que, silenciosamente, a dizia “Eu sei do seu truquezinho, e sei que ele não é nada seu. Não vai me escapar tão fácil.”
- Eu não...
- Por favor? – ele a interrompeu, novamente. Não queria ter de entrar na mente dela para manipular seus pensamentos. Ele era um caçador, teria que saber dominar sua presa.
- Ela vai! – disse Mary, respondendo pela garota, com os braços cheios de rolos de véus coloridos. – Ah Lys, qual é, vai privá-lo de vir ao baile?
Os dois a olharam, sérios, tentando convencê-la a aceitar.
- Ah, ok, eu aceito. – disse ela, sem escolha, a nuca arrepiando-se só pela ideia. – Mas só para seu primo ter um par. – Ela acrescentou, tentando amenizar o arrepio que tomava seu corpo.
Não adiantou.

A manhã passou-se rapidamente. Primeiro, um discurso inspirado sobre como deveriam fazer a escolha de cores, que no fim foram vermelho e dourado, para dar um tom acalorado à festa, disse Mary. Depois, tecidos e mais tecidos foram cortados para tentar encontrar a melhor maneira de decorar o salão. No fim, foram escolhidos a sobreposição de véus e alguns globos de espelho, para dar um toque retro.
Lys não achou uma escolha muito feliz a de juntar calor e anos 80, mas não ia reclamar. Afinal, quem entendia de festas era Mary, então sua palavra era uma ordem. Além disso, discutir traria apenas mais um de seus discursos inspirados.
Todo o pessoal da decoração foi almoçar omelete. Não que isso fosse, na realidade, um almoço, mas a cozinheira não pode estar na escola. A princípio, estava atrás de um vestido para alugar, vestido esse que vestiria no dia do baile.
- Parece que a velha Lourdes arranjou um velhote pra trazer pra dançar! – disse um engraçadinho, assim que a diretora Kremps explicou a situação. – Será que ela sabe que não é um baile da terceira idade?
Lys achou extremamente sem graça, mas todo o resto do refeitório, com exceção da diretora e de Ian, riu.
Depois de comer a omelete e o pudim de leite, Lys foi para o ginásio novamente. Ela estava sozinha lá, já que havia sido a primeira a acabar de almoçar. Comer rápido já havia se tornado um costume.
Subiu num andaime com um rolo de tecido vermelho, agulha, linha, barbante e alfinete, todo o necessário para pendurar o véu nas armações metálicas do teto do ginásio de eventos.
Agradeceu mentalmente por a festa não ser no ginásio de esportes, por que aí o andaime seria muito mais alto, e ela tinha medo de altura.
Lys ainda não entendia por que o salão estava sendo decorado com tanta antecedência. Uma semana... alguém iria destruir a decoração até lá.
Ela jogou o tecido por sobre a barra de ferro e pôs-se a costurar alguns pontos para que o tecido adquirisse uma boa sustentação. Mary a mataria se o tecido caísse no meio da festa, como no ano anterior.
Fora na errática decoração da festa do ano anterior que Mary havia decidido por ser decoradora de festas. Desde lá, não perdia uma chance de decorar nada, desde festas infantis até a festa de boas vindas para a avó dela, que esteve por um longo tempo no hospital e estava, finalmente, voltando para casa.
Acabou de prender aquele tecido e passou para o outro, que pendia logo ao lado.
Foi tudo muito rápido. Em um momento, estava em cima do andaime, prendendo o tecido de maneira nada habilidosa. Logo depois, estava caindo de lá de cima, indo, em alta velocidade, em direção ao chão.
Ela só se deu conta de o que estava acontecendo quando braços fortes a apertaram, fazendo-a tomar coragem para abrir os olhos.
- Eu morri? – perguntou ela, em uma tentativa frustrada de satirizar sua queda, ainda com medo. Ela podia ter morrido, se não fosse ele. – Estou no céu?
- Claro que não morreu, Lizbela, muito menos foi para o céu. Se estivesse no céu, você estaria nos meus braços, não nos dele. – disse Ian, ao lado de Jacques.
- Por que, Armstrong? Acha que eu não dou conta de levar uma garota para o céu? – perguntou Jacques, malicioso, apertando ainda mais os braços ao redor do corpo da garota, que tremia involuntariamente.
O aperto daqueles braços fortes e definidos só a fez tremer ainda mais.
- Eu não sei por que, Villaz, mas você parece, aos meus olhos, gostar de levar as garotas para outro lugar que não para o céu.
O francês estreitou os olhos.
- Pelo menos eu não coloco fogo nelas... literalmente. – ele o desafiou.
- Como se atreve... – disse Ian, ameaçando avançar em Jake.
Em um movimento rápido, o francês soltou Lys no chão e se pôs à sua frente, pronto para revidar qualquer ataque.
- Hey, parem vocês dois! – falou ela, usando do pouco de sua voz que ainda restava em seu ser. – Parem agora! – disse, um pouco mais forte dessa vez, colocando-se entre os dois.
Uma escuridão começou a cercar a garota pelas costas, tapando-lhe a visão rapidamente. E então esta a tomou e ela caiu no estranho mundo da inconsciência.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Capítulo 2 - Parte 2

        Assim que chegou, tocou a campainha, na esperança de encontrar Mary sozinha ou com Joe.
        Enquanto ninguém abria a porta, Lys voltou suas atenções para um pedaço de balão azul na folhagem. Provavelmente algum convidado o havia estourado, deixando um pedaço do mesmo para trás. Ela tentou desenroscar o resquício da planta.
        - Tocou a campainha apenas para vermos você praticando uma boa ação para com nossa folhagem? – disse uma voz rouca vinda da porta.
        A garota não tinha percebido que alguém já havia atendido a porta, porém, ao levantar os olhos e confirmar suas suspeitas sobre o dono da voz, seus olhos prenderam-se na imagem.
        Lá estava Ian Armstrong, sem camisa, provavelmente recém acordado, demonstrando seu corpo em forma, seu peitoral definido, seus ombros largos e sua barriga bem delineada. Com os cabelos ainda bagunçados, os olhos de um azul que destacava-se ao longe e o sorriso mais encantador que ela já vira, ele podia roubar o brilho de um Deus da mitologia grega inteiramente para si.
        Mesmo assim, ela ainda sentia o impulso de correr para o lado contrário, de fugir dele para o local mais distante possível.
        O vampiro reparou no quanto Lys prendeu-se à sua imagem, no quanto ela perdeu-se enquanto o admirava, e isso o fez rir ruidosamente.
        Ela percebeu o riso do rapaz e tratou de tentar recompor-se, tentando acalmar as batidas de seu coração descompassado.
        - Olá, Lizbela!
        - Armstrong... a Mary está? – disse Elizabeth, tentando ignorar o fato de suas bochechas estarem rapidamente transformando-se em pontos de calor.
        O vampiro riu novamente. Ela estava realmente envergonhada por ter sido pega o admirando, por não ser discreta o suficiente para deixar de ser notada. E ela ainda o chamava pelo sobrenome, sinal de que tentava o afastar. Ele a afetava, e sabia disso. Na verdade, ele gostava disso.
        - Sim, ela está no banho... quer entrar e esperar? Tomar um café, ou algo do gênero?
        Ela olhou para dentro da casa, tentando não reparar nos músculos do braço do moreno. Viu quando Joe acenou lá de dentro. Ok, Joe estava em casa, ela podia entrar.
        - Claro, tudo bem. Oi Joe! – disse ela, enquanto entrava na casa pelo espaço pequeno que Ian havia liberado, tendo que praticamente espremer-se contra o peito nu dele.
        - Lizzie! Pronta para trabalho voluntário?
        - O que? – ela perguntou, sem entender.
        - Sim, você vai aguentar minha irmã o dia todo, está fazendo trabalho voluntário para com as pessoas com menos paciência do que você, como, por exemplo, eu.
        A garota riu, enquanto o perfume do rapaz de olhos azuis a rondava.
        Ian fez a volta por ela e entrou na cozinha, revirando a geladeira à procura de algo. Tirou de lá um jarro de suco de abacaxi, natural, pela quantidade de espuma. O preferido da garota.
        - Quer? – ofereceu ele, erguendo de leve o jarro.
        A garota pensou um pouco, hesitante, mas ela nunca conseguiria resistir ao suco natural de abacaxi.
        - Um pouco.
        O vampiro serviu um copo para a garota e entregou-lhe, encostando propositalmente sua mão na dela. Ela pareceu não perceber que o ato tinha sido proposital, mas mesmo assim esquivou-se.
        - Obrigada. – agradeceu, sem graça.
        Ele então pôs o jarro novamente na geladeira e saiu da cozinha. A garota olhou para as costas largas do rapaz, elogiando-as mentalmente.
        Assim que ele subiu as escadas, dois degraus por vez, a conversa pode fluir normalmente.
        - Lizzie, você viu a garota nova, uma tal de Ann Marie?
        - Sim, ela é irmã do carinha que a Mary tem um encontro semana que vem, não é?
        - Exato! Eu a ajudei a encontrar as salas de aula, apresentei a escola... ela é muito legal. Eu estava pensando em convidá-la para um cinema.
        Uma pontada de ciúmes atingiu a garota. Afinal, era seu melhor amigo, nada mais justo do que sentir ciúmes dele.
        - Eu não acho uma boa idéia... – ele a olhou, espantado. Ela continuou. - Um cinema é tão impessoal... tenta um restaurante, é mais tranqüilo e vocês podem conversar.
        Um sorriso brotou nos lábios dele, um sorriso bobo e apaixonado.
        - Verdade, acho que você está certa mesmo. Nossa, eu estou parecendo uma criancinha no seu primeiro encontro.
        - Todos vocês ficam assim quando estão apaixonados, Hidel. É normal.
        O rapaz preparou-se para protestar, dizendo que não estava apaixonado, mas sua irmã o interrompeu, cumprimentando-os alegremente.
        - Olá pessoas! Prontos para mais um dia de preparativos?
        - Eu até estaria pronta, se você tivesse me dito para que me preparar.
        - É simples, Elizabeth: vocês dois vão nos ajudar nos preparativos para a festa de primavera da escola!
        Joe se engasgou com o suco de abacaxi, tossindo freneticamente.
        - O que te faz crer que eu irei ajudar?  - ele perguntou, assim que as batidas que Lys lhe deu nas costas surtiram algum efeito, fazendo a tosse parar.
        - Por que, Joseph, eu inscrevi nós três para o comitê de decoração.
        Foi a vez de Lys engasgar.
        - Você está maluca, Hidel? Como é que teve a coragem de fazer isso sem nos consultar primeiro? Você só vive de decoração de festas?
        - Eu não pedi por que sabia que vocês diriam que não!- ela olhou para os dois, pidona, mas quando viu que eles não diriam nada, completou. – Qual é, um pouco de trabalho voluntário não mata ninguém! Por favor?
        Os dois se olharam, trocando informações silenciosas, parecendo pensar em conjunto. Mary continuou olhando para os dois, com a mesma expressão pidona de antes.
        - Ah, ok, mas só por que não temos escolha. – respondeu Joseph, por fim.
        Nesse momento, Ian entrou novamente na cozinha, já mais arrumado, abotoando a camisa preta. O perfume dele exalava ainda mais forte agora, depois de ter sido, provavelmente, reaplicado. Era inebriante, delicioso, atrativo... perigoso.
        - Ah, então você convenceu eles a irem com a gente? – perguntou o vampiro, inocente, como se seus ouvidos apurados não houvessem escutado a conversa toda.
        - Você vai juntou? – perguntou Lys, olhando para ele. Depois, virou-se para Mary. – Ele vai junto?
        - Ele disse que adoraria ajudar...
        A garota tentou não parecer tão afetada quanto estava. Tudo que a motivava a ir àquela escola em pleno sábado ajudar na decoração era ver-se longe dele. De que adiantaria ir para lá agora, se ele iria junto?
        Elizabeth bufou mentalmente, enquanto se jogava no sofá, esperando por Mary se arrumar.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Capítulo 2 - Parte 1

Mary e Jacques sairiam em um encontro. Ok, não devia importar para Lys, não devia mesmo. Ela verificou três vezes, e não, em hipótese alguma estava sentindo algo além amizade pelo rapaz. Mas o medo de perder sua amiga para um namorado, de acabar tendo que servir de intrusa nos encontros deles dois... Era grande demais.
Mas não era isso que mais a incomodava, e sim o jeito como Jacques e Ian agiram um com o outro. Parecia que, de alguma maneira, eles se conheciam, ou, se não se conheciam, não foram com a cara um do outro, e isso não era bom. O que ela menos queria era que seu novo amigo e o primo da sua melhor amiga entrassem em conflito.
E Ian não saia da sua cabeça.
Quando Jake pôs o braço por sobre seus ombros, ela estranhou um pouco, mas ele gesticulou, a olhou de uma maneira que fez com que ela não falasse nada. Então, quando já estavam dentro do carro, ele explicou que, com caras como Ian, era assim que funcionava: eles só desistiam de uma garota quando a viam com outro. Ele mesmo era um desses, admitiu.
Mas o estranho foi que Elizabeth percebeu que eles não agiram como se tivessem se visto pela primeira vez. Podia ser só impressão dela, mas algo dizia que eles já se conheciam antes.
Ela continuou pensando, até finalmente cair no sono.
E então, mais uma vez ela passou por tudo aquilo. Mais uma vez, ela teve um sonho. E a coisa que ela menos gostava era sonhar.
Ela estava sentada em um balanço de corda, no meio da mata. Era tão divertido e sossegado lá... parecia desabitado, mágico...
Então, a cena mudou. O céu fechou-se em pesadas nuvens escuras e uma imagem apareceu por entre as árvores. E então, fogo. Muito fogo... fogo no corpo de uma garota morta.
Lys tentou gritar, apavorada, mas algo a impediu. No começo, ela não sabia o que a fazia não gritar, não correr para longe... mas depois, tudo fez sentido, por que ela descobriu... a imagem que ela via ao fundo, escorado em uma árvore tranquilamente, era o primo de Mary, o azul dos olhos não mentia. Era o mesmo azul que a deixava sem ações.
Ela o viu aproximar-se, lentamente. Tentou fugir, porém ele apareceu na sua frente. Correu então para o outro lado, mas ele novamente impediu seu caminho. E então ela cansou de correr, e quando seus pés fraquejaram e ela caiu de joelhos no chão, pedras foram cravejadas dolorosamente nos mesmos, ao mesmo tempo em que os olhos azuis do rapaz tomaram conta do campo de visão dela.
Um nome veio em sua cabeça: Ioseph. Mas esse não era o nome dele, ela tinha certeza. Por que, então?
O rapaz deu a mão para ela levantar-se. Um cavalheiro, ela pensou. Ela levantou-se com esforço, os joelhos sangrando, sem lembrar direito do motivo pelo qual fugira dele. Ele a puxou para seus braços e a beijou docemente. O gosto dos lábios dele era tão conhecido... ela podia descrever esse gosto com uma só palavra... um gosto ferruginoso, não tão agradável... sangue?
A garota se afastou dele, assustada. Ele estava diferente, assustador, tenebroso...
Um sorriso perverso apareceu nos lindos lábios dele.
Lys acordou gritando. Assim que se acalmou, começou a relembrar do sonho, um dos mais estranhos que já tivera. Lembrou de cada detalhe fora o final. O fim havia simplesmente sido deletado de sua mente.
O que era mesmo? Algo assustador, inexistente... nada. Ela não conseguia lembrar de nada depois do sorriso.
Ah, ele ficava tão lindo com um sorriso perverso, no melhor estilo bad boy... parecia que aquele sorriso era uma característica dele, algo que nasceu com ele e exclusivamente para ele.
Ela repreendeu-se por pensar dessa maneira.
Agradeceu às circunstâncias por sua mãe não ter a ouvido. Ela devia estar no jardim naquele momento. Era o que ela fazia nos fins de semana, antes de sua amada filha única acordar.
A garota levantou-se, suada. Tomou um banho rápido e pôs-se a preparar o café da manhã para as duas. O cheiro de bacon frito trouxe a mãe para dentro de casa.
- Bom dia, meu anjinho. – ela cantarolou, dando um beijo na testa da filha. – dormiu bem?
- Sim... na verdade, não. – a mãe a olhou complacente, incentivando-a a continuar falando. – Eu tive um pesadelo estranho de novo... e dessa vez, era o primo de Mary. Eu estava fugindo dele.
Jessica Price ouviu sua filha atentamente, enquanto a garota contava o seu sonho. Depois, a cozinha mergulhou em um silêncio profundo.
- E agora? – ela finalmente o interrompeu.
- Como assim, e agora, mãe?
- Sim, Lys, e agora? Você vai acreditar nesse seu sonho?
- Mamãe, durante toda a minha vida eu venho acreditando nos meus sonhos, desde que um deles me avisou que a tia Judy ia entalar num brinquedo infantil e isso aconteceu três dias depois, no aniversário do primo George.
- E vem dando certo esse negócio de acreditar nos seus sonhos?
A garota reparou no olhar incrédulo da mãe, mas ignorou-o.
- Eu estou viva, não estou? Então acho que meus sonhos têm adiantado de algo. Pelo menos nada me provou o contrário.
Nesse momento a mãe havia acabado de comer seu pedaço de bacon e de beber seu copo de suco de laranja. Ela levantou-se e deu outro beijo doce na testa da filha.
- Então tudo bem, minha bebê, só cuidado para não julgar as pessoas antes de conhecê-las.
- Eu sei, mamãe. Vou para a casa da Mary, eu tinha prometido ajudar ela em algo que eu nem sei o que é... ah, se nossa amizade não fosse tão valiosa...
As duas riram e se despediram. Depois, Lys dirigiu até a casa da amiga.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Capítulo 1 - Parte 5

          Ele sentou-se em um banco e ficou observando as garotas que passavam por lá, levando cachorros para passear, caminhando com os namorados, brincando com criancinhas... e sentadas em grupo, conversando animadamente. Eram essas as que ele mais gostava, os alvos mais fáceis. Normalmente, elas estavam atrás de caras que não quisessem compromisso, para se divertir pelo fim de semana apenas. E era aí que entrava Ian.
          Deparou-se com uma jovem garota, uns dezoito anos no máximo. Loira, olhos verdes, um pouco magra demais, mas dava para o gasto. Ian esperou até a garota dar uma risada ruidosa de algo que sua amiga baixinha dissera. Então, entrou na mente da garota e manipulou seus pensamentos, fazendo-a dar uma desculpa qualquer e separar-se do grupo. Então ele se aproximou.
          - O que uma garota tão bela faz sozinha no parque?
          - Ah, obrigada. Eu só estava...
          Ela continuou falando, mas o vampiro não prestou nenhuma atenção. Estava sedento, e o cheiro de sangue e a visão das finas veias azuis por baixo da pele alva faziam com que o corpo do vampiro doesse de ânsia, as presas arranhassem na boca, ansiando por libertarem-se e cravarem no pescoço dela.
          Ele tinha que fazer algo, antes que não conseguisse se conter, antes que a matasse na frente de todos.
          Ian não sabia ao certo se a iniciativa havia partido dele ou se ele havia manipulado os pensamentos da loira, mas no instante seguinte eles estavam beijando-se, indo em direção à um beco escuro.
Ele a beijava calorosamente, ansiando para provar de seu sangue. Ela, naturalmente, não sabia dos interesses do vampiro, e por isso agia por instinto, vivendo o momento.
          O vampiro enrolou os dedos no cabelo da garota e puxou sua cabeça para o lado e para trás. Ele não agüentava mais, estava sedento demais.
          A garota tentou gritar, mas ele tapou sua boca. Podia manipular os pensamentos da garota para fazê-la parar de gritar, mas não queria. Ele gostava de sentir o medo dela, de precisar dominá-la, de sentir que ela o temia. Era empolgante.
          A visão da jugular da garota, pulsante em sangue, o fez delirar. E então ele não agüentou mais.
          A garota sentiu os lábios dele em seu pescoço, então duas afiadas prezas causando uma dor dilacerante, duas pontadas na fina pele, perfurando-a e depois drenando o sangue.
          Ela tentou gritar, se debater, mas de nada adiantou, a não ser para deixá-la ainda mais cansada. Ela já estava exausta quando a escuridão a dominou por completo.
Ian sentiu suas presas perfurarem a pele dela, e então aconteceu. Aquela sensação que sempre acontece, que durante todos esses anos ele jamais foi capaz de se acostumar. A euforia, a sensação quente e enérgica de sentir o sangue escorrendo por sua garganta, o arrepio gelado e prazeroso percorrendo sua espinha e espalhando-se por todo seu corpo, a sensação de poder... tudo aquilo era indescritível.
          E ele amava ser vampiro.
          Mas a melhor parte... ah, a melhor parte estava, de longe, no medo da vítima, todas as emoções da vitima passando prazerosamente para o seu ser, o deixando sentir-se inatingível... aquela era a melhor parte, sem dúvida.
          Finalmente, a garota parou de debater-se, seu sangue sendo tirado completamente de seu corpo inerte. Ele a pegou no colo e saiu.
          Estava escuro, ninguém ia notar se ele por acaso saísse carregando a garota. Ninguém repararia no seu pescoço, nem na falta de movimento dos pulmões... naquela escuridão, ele pareceria apenas um namorado levando sua garota adormecida no colo.
          A pôs no carro e dirigiu até a floresta, não longe ao ponto de ele não poder ir a pé, mas era mais seguro ir de carro.
          Adentrou a densa mata com a garota nos braços e parou logo após, jogando o corpo sem vida no chão, nada gentilmente. Então tirou do bolso do casaco um vidrinho de Inívia, uma substância altamente inflamável que consumia rapidamente, desconhecida pelos humanos, mas muito usada por vampiros.
          Cobriu o corpo com aquela densa substância amarelada. Então, acendeu um fósforo e, como quem joga um papel de chicle no chão, jogou- por cima do corpo. Depois, sentou-se ao pé de uma árvore e ficou esperando o  corpo queimar, enquanto fumava um cigarro.
          Logo, o fogo consumiu-se por completo, até que não restasse mais nenhum indício de que a loira de olhos verdes estivesse ali antes.
          Ele apagou o cigarro, ainda pela metade, e jogou-o no chão. Ele odiava fumar. Fumava para poder rir dos humanos, ver o quanto aquilo era nocivo para eles, mas o quanto era inofensivo para um vampiro, mais uma prova de que humanos eram desnecessários para outra razão que não para sua alimentação.
          Mesmo assim, fumava apenas quando não tinha nada melhor para fazer. Era um habito ridículo, caro e inútil, só servia para prejudicar os humanos e entediar a ele próprio.
          Pensando nisso, assim que a última brasa rapidamente apagou, ele voltou ao se carro e dirigiu de volta para a casa da prima.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Capítulo 1 - Parte 4

Ian tirou o prego do pneu e jogou-o longe, antes de escorar-se em seu próprio carro. Ok, era infantil furar o pneu do carro das pessoas, mas era a maneira mais rápida de aproximar-se de Lys, e se possível, ganhar sua confiança ainda hoje.
Olhou ao redor. O estacionamento estava quase vazio, e isso era um ótimo sinal, pois as chances de ela pegar carona com outra pessoa eram quase nulas. O céu estava se fechando, formando pesadas nuvens. Logo iria chover, ele pensou, alegremente. Seria muito bom se começasse a chover caso ela negasse o cavalheirismo dele, mas mesmo se isso não acontecesse, ela iria olhar para o céu e pesar a decisão. Ela tinha que aceitar, era irrecusável.
A garota estava se aproximando lentamente, ainda na saída da escola. Se não fosse a visão apurada de vampiro, ele jamais a teria reconhecido, assim, de tão longe. Olhou para o pneu. Ótimo, ele já estava quase vazio. Daquela maneira, quando ela chegasse, a roda estaria no chão, excluindo qualquer possibilidade de ela ir de carro até o borracheiro.
Ele escorou-se no próprio carro, de maneira sedutora e casual, e esperou.
- Olá, Lizbela... – disse ele, sem ao menos olhá-la, mas já sabendo que ela estava quase chegando ao carro.
- Ian, oi. – ela respondeu, seca, um frio tenebroso subindo por sua coluna novamente.
- Eu vim aqui buscar a Mary e o Joe, mas eles já haviam partido. – mentiu ele. – então eu resolvi te dar uma carona. De nada.
- E por que eu precisaria de carona, Armstrong? Eu tenho carro. - disse ela, gesticulando para o automóvel prateado à sua frente.
- Eu também. – disse ele, jogando a cabeça levemente para trás e dando duas batidinhas leves com a mão na lataria preta do esportivo. – E é por isso que eu sei que não podemos andar de carro quando o pneu está furado e vazio. – ele deu ênfase no “E”, antes de baixar o olhar para o pneu furado.
A garota seguiu o olhar dele e então entendeu do que o outro estava falando.
- E vai chover. – concluiu ele, assim que os olhos da morena foram do pneu furado aos seus. – Tem certeza que não quer minha carona?
- Não precisa, cara, ela vem comigo, não é, Lys? Prazer, Jacques Claude Villaz. – disse ele, apertando a mão de Ian.
- Ian Armstrong. – ele respondeu, sério. Depois, encarou Lys, esperando por uma resposta.
A garota virou para trás, aos olhos do dono da mão que agora pousava em seu ombro, procurando por algum incomodo na expressão facial dele. Não encontrou nada, fato que a motivou a responder.
- Isso, Ian, eu vou com ele, não se preocupe.
- Ah, ok então. – o vampiro respondeu, a contragosto. – Cuide-se, Elizabeth. Nos vemos em breve.
Ele beijou a mão da garota e depois ficou vendo ela afastar-se, com o braço de Jacques por sobre seu ombro.
- Jacques, Jacques, Jacques... – ele sussurrou de maneira quase inaudível, para si próprio, tentando assim trazer à tona uma memória antiga.
De onde será que eles se conheciam? Por que Jacques transmitia-lhe familiaridade? Será que eles se conheciam da época em que ele ainda chamava-se Ioseph, quando ainda era um humano ignorante?
Se fosse, não seria nada bom. Mas o pior de tudo seria se eles se conhecessem de épocas mais recentes, quando Ioseph já havia dado lugar para Ian, o ripper, o vampiro sedento por sangue. Nesse caso, ele só poderia estar atrás do sangue de Lys.
De qualquer maneira, Ian não deixaria que outro vampiro, ou seja lá o que fosse esse tal Villaz, brincasse com o seu brinquedinho da vez. Antes disso, seria uma guerra.
Ele deu a partida no carro, manobrando lentamente pelo estacionamento quase vazio. Se tudo tivesse dado certo, agora ele estaria conversando animadamente com Elizabeth, enquanto ela tremia de um pavor inexplicável.
                Mas como sempre, o fracasso havia despertado sede no vampiro. E ele sabia exatamente onde iria encontrar comida.
                Ele fez o retorno, em direção ao parque municipal.
Em direção ao seu jantar.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Capítulo 1 - Parte 3

Quando todos finalmente foram embora, sem nem ao menos darem-se por falta da aniversariante, Ian foi para o seu quarto e jogou-se na cama.
“Festa idiota, horrível, lotada de humanos. Esses humanos são todos dispensáveis. Graças a seja lá o que for, eu posso devorá-los. Pelo menos livro o planeta da sua existência tediosa e desmotivadora.” Pensou o vampiro, assim que suas costas afundaram no delicioso colchão da casa dos Hidel.
Depois, seus pensamentos vagaram até Lys. Por que, afinal, ela havia sido tão temerosa com relação a ele? Ele fora o exemplo da gentileza, fora educado, e isso já era um avanço, tratando-se de uma humana. E, ainda assim, fora engraçado, sensual, irresistível... afinal, ele era Ian Armstrong, ser assim já fazia parte de ser ele, anos e mais anos de experiência.
Mas por que, depois de tudo isso, ela havia sido tão... amedrontada graças à sua presença? Isso não era normal.
Normalmente, ele era quem causava medo nas garotas. Antes disso, nenhuma delas resistia aos seus encantos e à sua aparência. Ter uma garota tentando fugir dele sem que ele tenha provocado essa reação nela era um tanto quanto... intrigante.
Será que ela sabia sobre o que ele era? Não, impossível, ele não lembrava de tê-la visto antes em sua longa existência, e mesmo que em sua época de humano, jamais esqueceria daquele rosto tão jovial e belo...
Mas, se ela não sabia, então que explicação haveria ao seu estranho comportamento?
Qualquer uma que fosse a resposta, ela era um desafio que ele não deixaria escapar.
Antes de ser a caça, ela seria seu joguinho. E ele não jogava para perder.
Um sorriso surgiu em seus lábios, tingindo suas lindas feições com tons de maldade.

Elizabeth afundou no seu colchão de água. Ah, como ela odiava aquele colchão. Mil vezes seus pais houvessem dado de presente um colchão de molas. Mas não, deixaram-se ludibriar por uma infeliz vendedora que os afirmou ser aquele o melhor colchão já produzido. Ela podia ter avisado que não haveria troca também.
Mas o colchão era o menor de seus problemas.
Armstrong era seu maior problema. Ou melhor, o jeito como ela agiu para com Armstrong.
Ele era lindo, gentil, cavalheiro, engraçado... até beijara a sua mão! Mas... havia algo estranho nele, ela podia sentir. Ele escondia algo...
“Ah, esquece isso, Elizabeth, é coisa da sua cabeça. Está traumatizada por causa do Philip.” Ela tentou convencer-se.
Devia ser só isso. Devia ser trauma dela. Depois que Philip demonstrou-se um perfeito idiota, era compreensivo ela pensar que todos os homens tivessem algo a esconder, algo terrível e com total capacidade de ferir uma garota.
Antes de Philip ela podia até dar uma chance para Ian... agora não. Ela não conseguiria, mesmo se tentasse. Muito menos depois da sensação.
A garota enfiou a cabeça no travesseiro e tentou tirar sua mente dele.
Parecia que aquela seria mais uma noite que ela passaria em claro, absorta em pensamentos.

~*~

Elizabeth chegou à McKingley High mais cedo do que o habitual, pegou seus materiais e foi para a sala de aula. Não queria ter que falar com Mary tão cedo. Não por estar brava com a amiga, pelo contrário, ela não conseguiria ficar brava por tanto tempo. É só que Mary Anne a vira com o primo na festa, e iria fazer perguntas difíceis de serem respondidas... além disso, ela não havia dormido a noite toda, não queria ter que falar com ninguém de tão mau humor.
Mas ele não saia da sua cabeça. Que droga, por que ela não podia parar de pensar em quanto aqueles olhos azuis a amedrontavam?
Ela sentou-se em sua classe no exato momento em que o sinal bateu. Em poucos instantes, os alunos encheram a sala. A professora Margareth Lits, que lecionava química, entrou no local e, diferente do rotineiro, manteve-se em pé na frente da mesa.
- Alunos, acalmem-se. – ela esperou, mas o burburinho da sala continuou. Então, ela desistiu e continuou a falar. – Esses são Jacques Claude e Ann Marie Villaz, alunos de intercâmbio. Eles vieram da França e serão seus mais novos colegas, pelo menos na minha aula.
A professora indicou os lugares onde os alunos deviam sentar-se. Jacques sentou-se ao lado de Lys.
- Olá! Bem vindo à escola. Meu nome é Elizabeth...
- E eu sou a Mary Anne. – disse a garota, sentada na frente de Lys.
- Olá. – ele respondeu, a voz rouca arrepiando a nuca de Mary. – Meu nome é Jacques.
- Lindo sotaque, Jacques. – elogiou Mary. – mas, quem sabe... posso te chamar de Jake? Jacques é muito chique, só para momentos especiais. – falou a loira, cutucando a amiga por debaixo da classe.
Lys riu da investida nada discreta da amiga.
- Claro que pode. E vocês...
- Lys e Mary. – respondeu Lys, antes que a amiga se empolgasse demais e inventasse um apelido vergonhoso para si.
A conversa durou todo o período de química. Lys queria pular no pescoço da amiga, por não deixá-la prestar a atenção, mas na verdade, estava gostando do garoto.
No fim da aula, ela sabia que ele já havia viajado por vários lugares do mundo, tinha alergia a moluscos, não gostava de esportes e fazia aulas de teatro, chegando a ganhar grandes concursos franceses. Além disso, ele escrevia poesias e era muito legal.
Pelo menos ela não estava mais pensando em Ian. Além do mais, Jake podia ser um ótimo amigo.

As aulas passaram-se num piscar de olhos. Fora as conversas com Mary, Jake e Joe, ela havia esquecido todo o resto. Na verdade, ela não havia esquecido, o problema era que ela nem havia prestado a atenção. Mal havia dado-se conta de que professor era! Tudo por causa dele.
Que porcaria, por que, afinal, ela não conseguira tirá-lo da cabeça o dia todo? E pior, por que ela não conseguia tirar da cabeça o medo que sentia dele?
A garota largou seus materiais no armário e o trancou. Depois, tirou o celular do silencioso e dirigiu-se à saída da escola, estranhando por não encontrar Mary pelo caminho.