Ian tirou o prego do pneu e jogou-o
longe, antes de escorar-se em seu próprio carro. Ok, era infantil furar o pneu
do carro das pessoas, mas era a maneira mais rápida de aproximar-se de Lys, e
se possível, ganhar sua confiança ainda hoje.
Olhou ao redor. O estacionamento
estava quase vazio, e isso era um ótimo sinal, pois as chances de ela pegar
carona com outra pessoa eram quase nulas. O céu estava se fechando, formando
pesadas nuvens. Logo iria chover, ele pensou, alegremente. Seria muito bom se
começasse a chover caso ela negasse o cavalheirismo dele, mas mesmo se isso não
acontecesse, ela iria olhar para o céu e pesar a decisão. Ela tinha que
aceitar, era irrecusável.
A garota estava se aproximando
lentamente, ainda na saída da escola. Se não fosse a visão apurada de vampiro,
ele jamais a teria reconhecido, assim, de tão longe. Olhou para o pneu. Ótimo,
ele já estava quase vazio. Daquela maneira, quando ela chegasse, a roda estaria
no chão, excluindo qualquer possibilidade de ela ir de carro até o borracheiro.
Ele escorou-se no próprio carro, de
maneira sedutora e casual, e esperou.
- Olá, Lizbela... – disse ele, sem ao
menos olhá-la, mas já sabendo que ela estava quase chegando ao carro.
- Ian, oi. – ela respondeu, seca, um
frio tenebroso subindo por sua coluna novamente.
- Eu vim aqui buscar a Mary e o Joe,
mas eles já haviam partido. – mentiu ele. – então eu resolvi te dar uma carona.
De nada.
- E por que eu precisaria de carona,
Armstrong? Eu tenho carro. - disse ela, gesticulando para o automóvel prateado
à sua frente.
- Eu também. – disse ele, jogando a
cabeça levemente para trás e dando duas batidinhas leves com a mão na lataria
preta do esportivo. – E é por isso que eu sei que não podemos andar de carro
quando o pneu está furado e vazio. – ele deu ênfase no “E”, antes de baixar o
olhar para o pneu furado.
A garota seguiu o olhar dele e então
entendeu do que o outro estava falando.
- E vai chover. – concluiu ele, assim
que os olhos da morena foram do pneu furado aos seus. – Tem certeza que não
quer minha carona?
- Não precisa, cara, ela vem comigo,
não é, Lys? Prazer, Jacques Claude Villaz. – disse ele, apertando a mão de Ian.
- Ian Armstrong. – ele respondeu,
sério. Depois, encarou Lys, esperando por uma resposta.
A garota virou para trás, aos olhos do
dono da mão que agora pousava em seu ombro, procurando por algum incomodo na
expressão facial dele. Não encontrou nada, fato que a motivou a responder.
- Isso, Ian, eu vou com ele, não se
preocupe.
- Ah, ok então. – o vampiro respondeu,
a contragosto. – Cuide-se, Elizabeth. Nos vemos em breve.
Ele beijou a mão da garota e depois
ficou vendo ela afastar-se, com o braço de Jacques por sobre seu ombro.
- Jacques, Jacques, Jacques... – ele
sussurrou de maneira quase inaudível, para si próprio, tentando assim trazer à
tona uma memória antiga.
De onde será que eles se conheciam?
Por que Jacques transmitia-lhe familiaridade? Será que eles se conheciam da
época em que ele ainda chamava-se Ioseph, quando ainda era um humano ignorante?
Se fosse, não seria nada bom. Mas o
pior de tudo seria se eles se conhecessem de épocas mais recentes, quando
Ioseph já havia dado lugar para Ian, o ripper, o vampiro sedento por sangue. Nesse
caso, ele só poderia estar atrás do sangue de Lys.
De qualquer maneira, Ian não deixaria que
outro vampiro, ou seja lá o que fosse esse tal Villaz, brincasse com o seu brinquedinho
da vez. Antes disso, seria uma guerra.
Ele deu a partida no carro, manobrando
lentamente pelo estacionamento quase vazio. Se tudo tivesse dado certo, agora
ele estaria conversando animadamente com Elizabeth, enquanto ela tremia de um
pavor inexplicável.
Mas como
sempre, o fracasso havia despertado sede no vampiro. E ele sabia exatamente
onde iria encontrar comida.
Ele fez o
retorno, em direção ao parque municipal.
Em direção ao seu jantar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário