sexta-feira, 16 de março de 2012

Capítulo 1 - Parte 4

Ian tirou o prego do pneu e jogou-o longe, antes de escorar-se em seu próprio carro. Ok, era infantil furar o pneu do carro das pessoas, mas era a maneira mais rápida de aproximar-se de Lys, e se possível, ganhar sua confiança ainda hoje.
Olhou ao redor. O estacionamento estava quase vazio, e isso era um ótimo sinal, pois as chances de ela pegar carona com outra pessoa eram quase nulas. O céu estava se fechando, formando pesadas nuvens. Logo iria chover, ele pensou, alegremente. Seria muito bom se começasse a chover caso ela negasse o cavalheirismo dele, mas mesmo se isso não acontecesse, ela iria olhar para o céu e pesar a decisão. Ela tinha que aceitar, era irrecusável.
A garota estava se aproximando lentamente, ainda na saída da escola. Se não fosse a visão apurada de vampiro, ele jamais a teria reconhecido, assim, de tão longe. Olhou para o pneu. Ótimo, ele já estava quase vazio. Daquela maneira, quando ela chegasse, a roda estaria no chão, excluindo qualquer possibilidade de ela ir de carro até o borracheiro.
Ele escorou-se no próprio carro, de maneira sedutora e casual, e esperou.
- Olá, Lizbela... – disse ele, sem ao menos olhá-la, mas já sabendo que ela estava quase chegando ao carro.
- Ian, oi. – ela respondeu, seca, um frio tenebroso subindo por sua coluna novamente.
- Eu vim aqui buscar a Mary e o Joe, mas eles já haviam partido. – mentiu ele. – então eu resolvi te dar uma carona. De nada.
- E por que eu precisaria de carona, Armstrong? Eu tenho carro. - disse ela, gesticulando para o automóvel prateado à sua frente.
- Eu também. – disse ele, jogando a cabeça levemente para trás e dando duas batidinhas leves com a mão na lataria preta do esportivo. – E é por isso que eu sei que não podemos andar de carro quando o pneu está furado e vazio. – ele deu ênfase no “E”, antes de baixar o olhar para o pneu furado.
A garota seguiu o olhar dele e então entendeu do que o outro estava falando.
- E vai chover. – concluiu ele, assim que os olhos da morena foram do pneu furado aos seus. – Tem certeza que não quer minha carona?
- Não precisa, cara, ela vem comigo, não é, Lys? Prazer, Jacques Claude Villaz. – disse ele, apertando a mão de Ian.
- Ian Armstrong. – ele respondeu, sério. Depois, encarou Lys, esperando por uma resposta.
A garota virou para trás, aos olhos do dono da mão que agora pousava em seu ombro, procurando por algum incomodo na expressão facial dele. Não encontrou nada, fato que a motivou a responder.
- Isso, Ian, eu vou com ele, não se preocupe.
- Ah, ok então. – o vampiro respondeu, a contragosto. – Cuide-se, Elizabeth. Nos vemos em breve.
Ele beijou a mão da garota e depois ficou vendo ela afastar-se, com o braço de Jacques por sobre seu ombro.
- Jacques, Jacques, Jacques... – ele sussurrou de maneira quase inaudível, para si próprio, tentando assim trazer à tona uma memória antiga.
De onde será que eles se conheciam? Por que Jacques transmitia-lhe familiaridade? Será que eles se conheciam da época em que ele ainda chamava-se Ioseph, quando ainda era um humano ignorante?
Se fosse, não seria nada bom. Mas o pior de tudo seria se eles se conhecessem de épocas mais recentes, quando Ioseph já havia dado lugar para Ian, o ripper, o vampiro sedento por sangue. Nesse caso, ele só poderia estar atrás do sangue de Lys.
De qualquer maneira, Ian não deixaria que outro vampiro, ou seja lá o que fosse esse tal Villaz, brincasse com o seu brinquedinho da vez. Antes disso, seria uma guerra.
Ele deu a partida no carro, manobrando lentamente pelo estacionamento quase vazio. Se tudo tivesse dado certo, agora ele estaria conversando animadamente com Elizabeth, enquanto ela tremia de um pavor inexplicável.
                Mas como sempre, o fracasso havia despertado sede no vampiro. E ele sabia exatamente onde iria encontrar comida.
                Ele fez o retorno, em direção ao parque municipal.
Em direção ao seu jantar.

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