Quando todos finalmente foram embora,
sem nem ao menos darem-se por falta da aniversariante, Ian foi para o seu
quarto e jogou-se na cama.
“Festa
idiota, horrível, lotada de humanos. Esses humanos são todos dispensáveis.
Graças a seja lá o que for, eu posso devorá-los. Pelo menos livro o planeta da
sua existência tediosa e desmotivadora.” Pensou o vampiro, assim que suas
costas afundaram no delicioso colchão da casa dos Hidel.
Depois, seus pensamentos vagaram até
Lys. Por que, afinal, ela havia sido tão temerosa com relação a ele? Ele fora o
exemplo da gentileza, fora educado, e isso já era um avanço, tratando-se de uma
humana. E, ainda assim, fora engraçado, sensual, irresistível... afinal, ele
era Ian Armstrong, ser assim já fazia parte de ser ele, anos e mais anos de
experiência.
Mas por que, depois de tudo isso, ela
havia sido tão... amedrontada graças à sua presença? Isso não era normal.
Normalmente, ele era quem causava medo
nas garotas. Antes disso, nenhuma delas resistia aos seus encantos e à sua aparência.
Ter uma garota tentando fugir dele sem que ele tenha provocado essa reação nela
era um tanto quanto... intrigante.
Será que ela sabia sobre o que ele
era? Não, impossível, ele não lembrava de tê-la visto antes em sua longa
existência, e mesmo que em sua época de humano, jamais esqueceria daquele rosto
tão jovial e belo...
Mas, se ela não sabia, então que
explicação haveria ao seu estranho comportamento?
Qualquer uma que fosse a resposta, ela
era um desafio que ele não deixaria escapar.
Antes de ser a caça, ela seria seu
joguinho. E ele não jogava para perder.
Um sorriso surgiu em seus lábios,
tingindo suas lindas feições com tons de maldade.
Elizabeth afundou no seu colchão de
água. Ah, como ela odiava aquele colchão. Mil vezes seus pais houvessem dado de
presente um colchão de molas. Mas não, deixaram-se ludibriar por uma infeliz
vendedora que os afirmou ser aquele o melhor colchão já produzido. Ela podia
ter avisado que não haveria troca também.
Mas o colchão era o menor de seus
problemas.
Armstrong era seu maior problema. Ou
melhor, o jeito como ela agiu para com Armstrong.
Ele era lindo, gentil, cavalheiro,
engraçado... até beijara a sua mão! Mas... havia algo estranho nele, ela podia
sentir. Ele escondia algo...
“Ah,
esquece isso, Elizabeth, é coisa da sua cabeça. Está traumatizada por causa do Philip.”
Ela
tentou convencer-se.
Devia ser só isso. Devia ser trauma
dela. Depois que Philip demonstrou-se um perfeito idiota, era compreensivo ela
pensar que todos os homens tivessem algo a esconder, algo terrível e com total
capacidade de ferir uma garota.
Antes de Philip ela podia até dar uma
chance para Ian... agora não. Ela não conseguiria, mesmo se tentasse. Muito
menos depois da sensação.
A garota enfiou a cabeça no
travesseiro e tentou tirar sua mente dele.
Parecia que aquela seria mais uma
noite que ela passaria em claro, absorta em pensamentos.
~*~
Elizabeth chegou à McKingley High mais
cedo do que o habitual, pegou seus materiais e foi para a sala de aula. Não
queria ter que falar com Mary tão cedo. Não por estar brava com a amiga, pelo
contrário, ela não conseguiria ficar brava por tanto tempo. É só que Mary Anne
a vira com o primo na festa, e iria fazer perguntas difíceis de serem
respondidas... além disso, ela não havia dormido a noite toda, não queria ter
que falar com ninguém de tão mau humor.
Mas ele não saia da sua cabeça. Que
droga, por que ela não podia parar de pensar em quanto aqueles olhos azuis a
amedrontavam?
Ela sentou-se em sua classe no exato
momento em que o sinal bateu. Em poucos instantes, os alunos encheram a sala. A
professora Margareth Lits, que lecionava química, entrou no local e, diferente
do rotineiro, manteve-se em pé na frente da mesa.
- Alunos, acalmem-se. – ela esperou,
mas o burburinho da sala continuou. Então, ela desistiu e continuou a falar. –
Esses são Jacques Claude e Ann Marie Villaz, alunos de intercâmbio. Eles vieram
da França e serão seus mais novos colegas, pelo menos na minha aula.
A professora indicou os lugares onde
os alunos deviam sentar-se. Jacques sentou-se ao lado de Lys.
- Olá! Bem vindo à escola. Meu nome é
Elizabeth...
- E eu sou a Mary Anne. – disse a
garota, sentada na frente de Lys.
- Olá. – ele respondeu, a voz rouca
arrepiando a nuca de Mary. – Meu nome é Jacques.
- Lindo sotaque, Jacques. – elogiou
Mary. – mas, quem sabe... posso te chamar de Jake? Jacques é muito chique, só
para momentos especiais. – falou a loira, cutucando a amiga por debaixo da
classe.
Lys riu da investida nada discreta da
amiga.
- Claro que pode. E vocês...
- Lys e Mary. – respondeu Lys, antes
que a amiga se empolgasse demais e inventasse um apelido vergonhoso para si.
A conversa durou todo o período de
química. Lys queria pular no pescoço da amiga, por não deixá-la prestar a
atenção, mas na verdade, estava gostando do garoto.
No fim da aula, ela sabia que ele já
havia viajado por vários lugares do mundo, tinha alergia a moluscos, não
gostava de esportes e fazia aulas de teatro, chegando a ganhar grandes
concursos franceses. Além disso, ele escrevia poesias e era muito legal.
Pelo menos ela não estava mais
pensando em Ian. Além do mais, Jake podia ser um ótimo amigo.
As aulas passaram-se num piscar de
olhos. Fora as conversas com Mary, Jake e Joe, ela havia esquecido todo o
resto. Na verdade, ela não havia esquecido, o problema era que ela nem havia
prestado a atenção. Mal havia dado-se conta de que professor era! Tudo por
causa dele.
Que porcaria, por que, afinal, ela não
conseguira tirá-lo da cabeça o dia todo? E pior, por que ela não conseguia
tirar da cabeça o medo que sentia dele?
A garota largou seus materiais no
armário e o trancou. Depois, tirou o celular do silencioso e dirigiu-se à saída
da escola, estranhando por não encontrar Mary pelo caminho.
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