- Bem
vindo ao McKingley High, Ian.
-
Medíocre, fedorento, imundo e sem graça. – completou Joe.
O colégio
estava cheirando à omelete, revelando o que o refeitório trazia de almoço para
as pessoas que estavam ajudando na preparação do ginásio.
Enquanto
Mary tirava os materiais artísticos da sala da Srta. Murtgomery, Lys revirava
seu armário à procura de fita, tesoura, cola, alfinetes ou qualquer coisa posta
ali que, sem querer, servissem para algo.
- Então,
Lizbela... – começou o vampiro, escorando-se no armário ao lado da garota. –
Com quem você vai ao baile?
Lys olhou
para o moreno de olhos azuis, em um misto de surpresa e descrença. Não pode
impedir seus olhos de irem de encontro aos braços fortes do rapaz, apertados
dentro do tecido da camisa preta.
- Eu não
vou para o b...
- Você
podia vir comigo! – ele a interrompeu. Vendo a cara de assustada da garota, ele
completou. – Qual é, eu adoro bailes, e você é a única garota daqui que eu
conheço, exceto, é claro, minha prima. E antes que sugira, não, eu não virei
sem par, é ridículo e é coisa de nerd, e eu estou muito longe de ser nerd, como
você bem pode ver. Além disso, Mary já vai ao baile com seu amiguinho, o...
qual é o nome mesmo... Jacques Claude Villaz. – ele falou com desdém. – Ela não
para de falar sobre isso. Eu até achei que ele fosse querer vir com você,
mas...
O vampiro
lançou um olhar esperto para a garota, um olhar que, silenciosamente, a dizia
“Eu sei do seu truquezinho, e sei que ele não é nada seu. Não vai me escapar
tão fácil.”
- Eu
não...
- Por
favor? – ele a interrompeu, novamente. Não queria ter de entrar na mente dela
para manipular seus pensamentos. Ele era um caçador, teria que saber dominar
sua presa.
- Ela vai!
– disse Mary, respondendo pela garota, com os braços cheios de rolos de véus
coloridos. – Ah Lys, qual é, vai privá-lo de vir ao baile?
Os dois a
olharam, sérios, tentando convencê-la a aceitar.
- Ah, ok,
eu aceito. – disse ela, sem escolha, a nuca arrepiando-se só pela ideia. – Mas
só para seu primo ter um par. – Ela acrescentou, tentando amenizar o arrepio
que tomava seu corpo.
Não
adiantou.
A manhã
passou-se rapidamente. Primeiro, um discurso inspirado sobre como deveriam
fazer a escolha de cores, que no fim foram vermelho e dourado, para dar um tom
acalorado à festa, disse Mary. Depois, tecidos e mais tecidos foram cortados
para tentar encontrar a melhor maneira de decorar o salão. No fim, foram
escolhidos a sobreposição de véus e alguns globos de espelho, para dar um toque
retro.
Lys não
achou uma escolha muito feliz a de juntar calor e anos 80, mas não ia reclamar.
Afinal, quem entendia de festas era Mary, então sua palavra era uma ordem. Além
disso, discutir traria apenas mais um de seus discursos inspirados.
Todo o
pessoal da decoração foi almoçar omelete. Não que isso fosse, na realidade, um
almoço, mas a cozinheira não pode estar na escola. A princípio, estava atrás de
um vestido para alugar, vestido esse que vestiria no dia do baile.
- Parece
que a velha Lourdes arranjou um velhote pra trazer pra dançar! – disse um
engraçadinho, assim que a diretora Kremps explicou a situação. – Será que ela
sabe que não é um baile da terceira idade?
Lys achou
extremamente sem graça, mas todo o resto do refeitório, com exceção da diretora
e de Ian, riu.
Depois de
comer a omelete e o pudim de leite, Lys foi para o ginásio novamente. Ela
estava sozinha lá, já que havia sido a primeira a acabar de almoçar. Comer
rápido já havia se tornado um costume.
Subiu num
andaime com um rolo de tecido vermelho, agulha, linha, barbante e alfinete,
todo o necessário para pendurar o véu nas armações metálicas do teto do ginásio
de eventos.
Agradeceu
mentalmente por a festa não ser no ginásio de esportes, por que aí o andaime
seria muito mais alto, e ela tinha medo de altura.
Lys ainda
não entendia por que o salão estava sendo decorado com tanta antecedência. Uma
semana... alguém iria destruir a decoração até lá.
Ela jogou
o tecido por sobre a barra de ferro e pôs-se a costurar alguns pontos para que
o tecido adquirisse uma boa sustentação. Mary a mataria se o tecido caísse no
meio da festa, como no ano anterior.
Fora na
errática decoração da festa do ano anterior que Mary havia decidido por ser
decoradora de festas. Desde lá, não perdia uma chance de decorar nada, desde
festas infantis até a festa de boas vindas para a avó dela, que esteve por um
longo tempo no hospital e estava, finalmente, voltando para casa.
Acabou de
prender aquele tecido e passou para o outro, que pendia logo ao lado.
Foi tudo
muito rápido. Em um momento, estava em cima do andaime, prendendo o tecido de
maneira nada habilidosa. Logo depois, estava caindo de lá de cima, indo, em
alta velocidade, em direção ao chão.
Ela só se
deu conta de o que estava acontecendo quando braços fortes a apertaram,
fazendo-a tomar coragem para abrir os olhos.
- Eu
morri? – perguntou ela, em uma tentativa frustrada de satirizar sua queda,
ainda com medo. Ela podia ter morrido, se não fosse ele. – Estou no céu?
- Claro
que não morreu, Lizbela, muito menos foi para o céu. Se estivesse no céu, você
estaria nos meus braços, não nos dele. – disse Ian, ao lado de Jacques.
- Por que,
Armstrong? Acha que eu não dou conta de levar uma garota para o céu? –
perguntou Jacques, malicioso, apertando ainda mais os braços ao redor do corpo
da garota, que tremia involuntariamente.
O aperto
daqueles braços fortes e definidos só a fez tremer ainda mais.
- Eu não
sei por que, Villaz, mas você parece, aos meus olhos, gostar de levar as
garotas para outro lugar que não para o céu.
O francês
estreitou os olhos.
- Pelo
menos eu não coloco fogo nelas... literalmente. – ele o desafiou.
- Como se
atreve... – disse Ian, ameaçando avançar em Jake.
Em um
movimento rápido, o francês soltou Lys no chão e se pôs à sua frente, pronto
para revidar qualquer ataque.
- Hey,
parem vocês dois! – falou ela, usando do pouco de sua voz que ainda restava em
seu ser. – Parem agora! – disse, um pouco mais forte dessa vez, colocando-se
entre os dois.
Uma
escuridão começou a cercar a garota pelas costas, tapando-lhe a visão
rapidamente. E então esta a tomou e ela caiu no estranho mundo da
inconsciência.
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